segunda-feira, 20 de abril de 2009


Olhar de Miúdos Descalços

O sabor do oceano adoça-me a boca
Como se sentisse o mel nos teus lábios,
Súplica de encantadas sereias,
Delírios entoados pela ventaneira.
Viagem infindável de uma romeira
Trilho traçado no chão que semeias,
Páginas mastigadas dos alfarrábios
Que contam a nossa natureza louca.

Castelos imponentes feitos de areia,
Desenhados por valvas e pedrinhas
Extensões de quimeras perdidas…
Querer ser e não poder.
Sentado no mundo que me viu nascer
Conto estrelas como sendo vidas,
Forjo letras e pequenas palavrinhas,
Olho triste a aranha em sua teia.

Vivo romances falsos…
Sinto a velhice em tenra idade,
A dar-me lições moralistas,
Pena merecida nesta existência.
Cega-se uma vida em decadência,
Máscaras… expressões que registas
Por serem o espelho da verdade,
Olhar de miúdos descalços.

Fome… fome que vejo alguém ter,
Que repudio por ser eu… ou não!
Balas que atravessam desertos,
Desertos de homens sem inteligência.
Corpos rasgados… sem essência,
Espalhados pelo campo, descobertos,
Ao relento, à morte, na solidão,
Olhar de miúdos que querem viver.

1 comentário:

mariabesuga disse...

... a fome das soluções que não conseguimos inventar para deixar de herança aos miúdos que querem viver...

abraço