segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


Excertos I

Ser alguém e gente também,
Tinta de caneta sem cor
Que troca letras, olhos,
Queimar o frio com amor
E ver sempre mais, mais além.

Temer a morte da vida de alguém,
Plantar sonhos em forma de flor
Que nasce e renasce em teus olhos,
Saborear no aconchego, o calor
Que faz sorrir e sentir, tão bem.

Sussurrar o vento de ninguém,
Que voa perdido, sem sabor,
Leva-me de cá para lá em teus olhos,
Esses diamantes de eterno valor
Que a ti me prendem, refém.

Excertos II

Ser só uma protuberância de teus lábios,
Feita acrescento misterioso de ar corpóreo
Confundido na sombra que hoje esqueces
Em páginas gastas de sábios alfarrábios,
Sentadas num alto e verde promontório
Esculpido pela alma fria que me aqueces.

Amar-te é tudo isso, aquilo ou ademais,
Sem medo de ter medo de tantos receios
Afogados no fundo de lânguidas sensações,
Escravizadas por trincheiras plurais
Onduladas horizontalmente em teus seios,
Em beijos tantos ou talvez milhões.

Esquecer-te não é morte que a mim importe,
Adoece-me apenas o âmago pasmo de desejo,
O calor rubro das faces do Inverno.
Fazes-te faca que rouba o Sul ao Norte,
A ocasião perdida em leve ensejo,
Nobreza de um viver, inferno.

Excertos III (para Antónia Ruivo)

Afaga-te palavra feita de desejo
Tomada agora por conquista
Cativa refém de louco mundo,
Pedra áurea de alquimista
De brilho eterno e profundo.

Grita-te palavra revolucionária,
Escrita por balas em teu peito
Na manhã odorada a candelária
Que acorda rasgada em teu leito
Por sabres que sangram batalhas.

Soma-te palavra à vida que foge
Por entre olhares perdidos,
Cabelos desfiados sem cor
Tapa-te de receios paridos,
De raios de Sol que cobrem a dor.

Embeleza-te palavra por seres minha,
Pelas flores que no campo revives
Cercadas do amor que te tinha,
Pedra preciosa de ourives,
Sonho inacabado deste imaginário.